Entenda qual a importância da estrutura celular da planta

TÃtulo da Pesquisa: Caracterização morfológica e anatômica de cultivares de espécies com finalidades medicinais pertencentes ao gênero Cannabis (Cannabaceae).
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro – IPJBRJ
Entrevistamos a bióloga e mestre e Biologia Vegetal, Jéssica Regina Sales Felizberto, que está cursando o programa de doutorado em metabolismo especial de plantas. Jéssica trabalha na Fazenda APEPI e lá ela desenvolve a observação das plantas.
Acompanhe!
APEPI – Jéssica, por que é importante realizar a caracterização anatômica da Cannabis?
Jéssica: A caracterização anatômica ainda não é o ponto que estamos trabalhando, mas sim a caracterização morfológica. Essa foi uma opção que fizemos para essa fase do projeto, inclusive para atender a uma necessidade da Fazenda APEPI. Então, decidimos deixar essa etapa da caracterização anatômica para o final da pesquisa.
Ela é importante para a gente conseguir descrever as estruturas celulares que estão presentes na cannabis e as suas variedades que são cultivadas no Brasil. Ocorre de ter estruturas celulares diferentes. É importante ter essa caracterização da estrutura celular da planta em todos os seus órgãos: folhas, caule, raiz, inflorescência. Esse é um trabalho muito meticuloso e extenso e que possui uma grande importância para a comunidade cientÃfica e para o conhecimento geral sobre a cannabis.
Já a caracterização morfológica consiste em pesquisar as estruturas que conseguimos visualizar, sua formação espacial, o delineamento delas. Por exemplo, em relação aos folÃolos que tem a folha da planta, a medição entre eles, a distância das cerras, etc. Diferente da folha da mangueira por exemplo, que é inteira.
APEPI- É muito mencionado que existem três espécies de Cannabis. A sativa, Ãndica e ruderalis. Hoje em dia, essa separação é considerada como verdade?
Jéssica: É delicado falar sobre isso. A Cannabis é uma planta que foi muito hibridizada, ou seja, que sofreu muitos cruzamentos, uma planta cheia de manipulação humana. Há registros de uso da cannabis bem antes de Cristo. Essa forma de se referir à Cannabis é vernacular, ou seja, de uso popular baseada nas caracterÃsticas morfológicas. Cientificamente não é uma informação válida, porque não atende a caracterização botânica. São caracterÃsticas morfológicas que podem variar significativamente mediante pressões do ambiente. Assim, mesmo as plantas “classificadas†como Ãndica, por exemplo, poderia desenvolver caracterÃsticas morfológicas de Sativa, se cultivada sobre um ambiente diferente do original. Então, toda a composição do ambiente (temperatura, umidade, solo, fungos, insetos, plantas) pode implicar variação morfológica na Cannabis e causar confusão na classificação baseada apenas na morfologia macroscópica.
Só existe uma planta que em 1735, o botânico Carl Lineu nomeou como Cannabis sativa.
Para ser considerado uma nova espécie, um fator principal é o distanciamento reprodutivo. Ou seja, as espécies não tem capacidade de cruzar entre si e gerar proles férteis. No caso da cannabis, e possÃvel realizar inúmeros cruzamento entre variedades diferentes e conseguir gera descendentes férteis. Mas só é possÃvel cruzar por meio de HIBRIDIZAÇÃO INTROGRESSIVA.
APEPI – O que são quimiotipos de Cannabis?
Jéssica: É uma classificação dentro da espécie Cannabis sativa baseada unicamente nos fenótipos quÃmicos da planta, ou seja, no seu arsenal quÃmico. Esse arsenal é composto pelo conjunto de substâncias complexas que ela vai biosintetizar a partir do seu metabolismo.
São vários quimiotipos, algumas com alto teor de THC, outras com CBD e assim por diante com outros canabinoides, com os terpenos, cromenos e flavonoides.
APEPI – Jessica, Cannabis é apenas um gênero da grande famÃlia Cannabaceae. Só as plantas de Cannabis que produzem CBD e THC?
Jéssica: Essa é uma polêmica. Foi divulgada uma pesquisa recente dizendo que plantas da famÃlia cannabaceae também produzem canabinoides. Com base nas informações fornecidas pelo pesquisador, sim há outra planta no gênero Trema Micantra. Contudo, ainda não tivemos acesso a essa pesquisa e não é possÃvel saber quais foram os canabinoides encontrados e qual o percentual dessas substâncias na planta.
A abordagem negativa que a imprensa adota nessas divulgações, muitas vezes colabora com a marginalização da cannabis. Mesmo que haja essa evidência, temos ressalvas sobre o teor dessa quantidade, que seja igual ou superior à que a cannabis produz. Seria necessária uma floresta dessa outra planta (Trema Micantra) para ter o teor de canabinoides que se usa na produção de medicamentos, acreditamos que seja inferior ao da Cannabis.
Clique aqui e conheça a série de entrevistas do APEPI Pesquisa