Entrevista com Marília Santoro, pesquisadora da UNICAMP que desenvolve análises clínicas em toxicologia farmacêutica em cannabis medicinal 


Título da Pesquisa: Avaliação do perfil de canabinoides, microbiológico, terpenos, solventes residuais, praguicidas e genético em amostras de Cannabis

Farmacologia UNICAMP

Entrevistamos Marília Santoro, pesquisadora da UNICAMP, e sua pesquisa tem o objetivo de avaliar a qualidade dos produtos à base de Cannabis (planta, óleo e extratos), através da análise do perfil canabinoides, microbiológico, genético, micotoxinas, terpenos, solventes residuais e praguicidas. 

Acompanhe!

APEPI – O seu projeto é muito interessante, pois visa fazer um acompanhamento de todo o controle do perfil dos canabinoides, que são responsáveis pelo efeito medicinal do óleo, mas também do controle de qualidade dele. Como surgiu essa proposta? Seu grupo trabalha com essa linha de pesquisa? 

Marília – Meu interesse começou ainda na graduação do curso de Farmácia. Me interessei pela planta e via que as pessoas não exploravam muito ela. Em 2015 eu me apaixonei pelo tema, mas só no doutorado que tive a oportunidade de fazer esse trabalho enquanto projeto em si, com objetivo de ajudar as pessoas que estavam extraindo óleos das plantas dentro de casa, ou seja, informar as pessoas sobre o que de fato elas estavam ingerindo. A pesquisa quer ajudar para que as pessoas que precisam possam tomar algo seguro e de maior controle.  

APEPI – Como a parceria com a APEPI tem contribuído para o desenvolvimento do seu projeto e como você vê que o seu projeto contribui para o atendimento e controle de qualidade os óleos da APEPI? 

Marília – A parceria é maravilhosa. No início do projeto a gente não tinha ideia de quantas amostras a gente ia conseguir. A partir dessa parceria a gente teve a chance de ampliar as análises para outras associações também. Outras parcerias começaram a ser possível e cresceu o número de amostras e de pacientes. A parceria deu maior credibilidade para a pesquisa e para os óleos. Alguns pacientes são membros de associações que democratizam o acesso aos medicamentos, como é o caso da APEPI ou aqueles que possuem Habeas Corpus (HC) e cultivam a planta em casa para fabricar o óleo. Todos querem entender se estão fazendo certo e com qualidade.  

Hoje temos cerca de 50 pacientes com HC.  

APEPI – Outra iniciativa bastante inovadora foi o projeto de Mutirão Jurídico onde colocamos em contato pessoas que desejam conseguir a permissão judicial de cultivo e extração com jovens advogados que desejam adquirir mais experiência em direito canábico. Dessa forma, a APEPI ajuda nessa construção, uma demanda recorrente.  

Marília – Sem dúvida essa é uma ótima iniciativa que deve ser mantida. Eu não conhecia esse projeto Mutirão, mas vindo da APEPI já sei que é sucesso.  

APEPI – Marília como você vê os resultados do seu projeto contribuindo com a forma de se enxergar a Cannabis medicinal no Brasil? Vai ser uma toada única na qualidade de óleos produzidos por associações e pacientes com HC? 

Marília – A cena é promissora. Não temos uma conclusão ainda, mas vejo que precisamos de ter um regulamento da ANVISA para uma melhor extração desse óleo, um procedimento padrão para quem consegue fazer a extração do óleo no sentido de atingir maior qualidade. O nosso objetivo é pautar a ANVISA nessa questão, ajudar o governo brasileiro criar uma espécie de tutorial nacional e ajudar o Brasil enxergar a importância disso. Não queremos simplesmente colocar diretrizes de laboratório industrial nessa produção, mas sim auxiliar na extração doméstica também, para que o paciente possa ter essa autonomia.  

APEPI – Você analisa óleos de pacientes que fazem o óleo de forma artesanal? Se sim, você encontra muitos resultados de pacientes que achavam que faziam uso de óleo de CBD, mas é THC, ou ainda que achavam que tinha algo no óleo e não tinha nada? 

Marília – Já encontrei sim. Principalmente casos em que a pessoa comprou óleo em sites clandestinos de blogueiros e influenciadores. Porém, o produto tinha o azeite, só a base. É frustrante demais para o paciente que investe altos valores e muitas vezes sem ter esses recursos. O preço é alto. Mas ao final não tem o tratamento. Ã‰ um placebo.  

As ocorrências não chegam a ser metade das amostras, mas é um número relevante.  

APEPI – É sempre bom ressaltar que há muitos golpes na praça, há muitas pessoas agindo de má fé. Tivemos um caso recente aqui na APEPI e é sempre bom reforçar que não temos representantes comerciais. Não há outra forma de adquirir nossos óleos a não ser via associação.  

Marília – Sem dúvida é importante manter esse aviso para os pacientes associados.  

APEPI – Quais são as perspectivas futuras que você tem com seu projeto? Pretende publicar ele e dar prosseguimento em um pós-doutorado? 

A previsão de conclusão da pesquisa é em 2024. Estamos publicando um artigo sobre os perfis de canabinoides usando óleos da APEPI. Está em fase de finalização esse artigo.  

Temos outros métodos que vão entrar em artigos posteriores. A APEPI trabalha com métodos de estabilidade e procurando a melhor extração em si. Esse trabalho é feito junto com toda a equipe de laboratório da fazenda, o que nos ajuda a gerar dados que serão publicados depois.  

Pretendo fazer uma pesquisa sobre a APEPI, mas seria algo mais voltado para a questão do tratamento em si, do paciente. Como é a eficácia do tratamento no organismo, no sangue das pessoas que estão usando. Algo mais biológico e não apenas no produto.  

Como sou da área de Toxicologia Analítica, esse é um campo que me interessa, para além do controle de qualidade, mas abranger uma área biológica e medicinal.  

APEPI – Desejamos muito sucesso para a sua pesquisa Marília

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