APEPI marca presença na primeira edição da feira internacional na capital paulista

O primeiro dia da feira internacional ExpoCannabis Brasil em São Paulo foi intenso. Várias atividades e debates acontecendo simultaneamente envolvendo a cena canábica no Brasil e no mundo. O que há de mais inovador sobre a o contexto político, as iniciativas empreendedoras e as melhores práticas de cultivo da planta marcaram esse dia 15 de setembro. O evento reúne mais de 120 especialistas e autoridades de países como Brasil, Argentina, Estados Unidos, México, Paraguai e Uruguai no Centro de Exposições São Paulo Expo, com o tema “Semeando o Futuro”.

QUAL REGULAÇÃO NÓS QUEREMOS?

Na Arena do Conhecimento conferimos a fala do advogado Rodrigo Mesquita sobre o tema Regulação Brasileira da Cannabis. De acordo com ele, a regulação é feita aqui e agora, não é feita apenas pelo poder público ou pelo Estado. É feita pelos consumidores, é feita pelos usuários da cadeia produtiva. “Aqui nesse evento estamos tendo a oportunidade de ver de perto três jardins de cannabis. Isso é fazer regulação, algo que permeia todos os espaços políticos para além da ANVISA”, afirmou Mesquita, que é vice-presidente da Comissão Especial de Direito da Cannabis da OAB Nacional.

O advogado contou ainda que esteve presente no recente julgamento do Supremo Tribunal de Justiça – STJ, que reconheceu a legitimidade de habeas corpus da pessoa que precisa cultivar maconha para fins medicinais. “Vencemos essa disputa por 7×2 votos, mas minha preocupação foram os dois votos contra, justamente porque eles não tinham argumentos sustentáveis e repetiram muita desinformação que reforçam preconceitos”, lamentou Rodrigo. Para ele, devemos ser consumidores de democracia e nesse sentido, promover o debate nas instâncias federais e casas legislativas do Brasil, mas também em casa, nas escolas, no trabalho, no ponto de ônibus e onde mais pudermos.

De acordo com Rodrigo Mesquita, já existe regulação no Brasil, mas esta é uma regulação restritiva, ou seja, que criminaliza. Devemos então decidir qual regulação nós queremos. “Eu defendo uma que exista liberdade para as pessoas, que haja responsabilidade com as relações de trabalho envolvidas na cadeia produtiva da maconha e reparação pelas opressões cometidas pelo Estado contra as comunidades vulneráveis desse país”, disse Mesquita.

CANNABIS COMO SOLUÇÃO SUSTENTÁVEL

No espaço chamado de Fórum Internacional aconteceu a palestra do professor Derly José, da Universidade Federal de Viçosa, que abordou a grande importância da planta cannabis como solução para a crise climática. De acordo com ele, a planta Cannabis Sativa está estruturada para o ambiente tropical, permitindo a entrada de uma grande quantidade de luz. Ela também possui um sistema radicular que é considerado agressivo, o que lhe permite quebrar camadas de solo, daí a sua capacidade de recuperar o solo. O sistema radicular é o órgão responsável pela fixação das plantas e pela eficiência na absorção de água, sais minerais e nutrientes desses vegetais. No entanto, é uma planta que se origina em locais muito frios, por esse motivo no ambiente tropical ela consome muita água. Para lidar com essa questão existem duas metodologias de trabalho: uma delas é o indoor completo e a outra, que é a utilizada na Fazenda APEPI, reproduz a estrutura do indoor, porém aberto. Com isso é possível aquecer menos a planta, o que faz com que ela gaste menos energia para se resfriar, reduzindo o consumo de água e tornando o ambiente mais sustentável.  

O professor Derly apresentou várias curiosidades de suas pesquisas envolvendo o homem pré-histórico e o uso da cannabis. Uma delas é que a planta foi bastante utilizada como fonte de fibra para abrigo, alimentação e para desvencilhar do sofrimento e aliviar o cansaço. Além disso, ele comentou que temos a planta dentro da gente. “No sistema endocannabinoide, fica difícil saber onde começa a planta e termina o ser humano. Essa é uma planta que responde a qualquer ação que fazemos com ela, não se pode ser irresponsável nesse sentido, esse é um trabalho sagrado”, disse ele. O professor afirmou ainda que destina para a cannabis o mesmo respeito que ele destina ao Pequi, o fruto conhecido como ouro do cerrado, um verdadeiro milagre de Deus, que brota nas regiões mais pobres do país e é fonte rica de proteína e de óleo.  â€œA planta cannabis não é uma planta de gueto, não serve para pessoas egoístas. Ninguém domina por completo a sua genética. Em se tratando de cannabis, somos todos aprendizes”, disse.

 NEGÓCIOS DO FUTURO E POLÍTICA DE DROGAS

No painel mediado por Emilio Figueiredo, advogado e atuante na Rede Reforma, que reuniu Giorgio Volonghi, criador da empresa Aleda; Maria Eugenia Riscala, criadora da Kaya Mind e Henrique Santana, protagonista da série Pico da Neblina; o foco foi o crescimento do mercado da cannabis no Brasil e como o país precisa começar a olhar para esse grande potencial, abandonando sua visão conservadora e retrógrada que impera ainda hoje.

O mercado de cannabis para fins medicinais deve triplicar de acordo com previsões já levantadas pelos anuários do setor produzidos pela empresa Kaya Mind. “São 250 mil pessoas fazendo tratamento com cannabis medicinal no Brasil hoje”, afirmou Maria Eugenia. Segundo estimativa da CEO, se somarmos o uso adulto, o uso medicinal e o cânhamo, ou seja, todo o mercado de forma geral, a arrecadação pode chegar a cerca de R$ 26 bilhões.

No cenário das Associações de Pacientes, produtoras de medicamentos, o crescimento tem um cenário exponencial. Além de terem puxado o bonde da história, pois efetivamente foram elas que levantaram esse debate no Brasil que resultou no mercado que a gente tem hoje, elas são uma importante representação da população que ainda sente a necessidade de ter esse apoio nacional para o acesso. Se antes elas nem eram associações, mas sim pequenos grupos de mães que tentavam dar alívio para as dores de seus filhos, hoje elas são as entidades que mais crescem nesse ramo em número de associações, ou seja, pessoas interessadas em se tratar com cannabis, uma grande fatia de pacientes. “Hoje são mais de 140 associações no país que se especializam cada dia mais. São 60 mil pacientes sendo atendidos pelas associações em um cenário onde o total é de 250 mil. Lembrando que elas expandiram o conhecimento adquirido para outras pessoas que também precisavam”, disse Maria.

E são muitas e diversas marcas produzindo produtos para atender a este amplo mercado. As frentes de atuação são inúmeras. Como apontou Giorgio Volonghi, “a maior prova disso que eu estou falando é esse evento da ExpoCannabis, com mais de 140 expositores de 11 países diferentes com expectativa de 25 mil pessoas nos três dias de evento. Só de marcas de seda são mais de mil no Brasil hoje”, lembrou o criador da marca Aleda, que existe desde 2006.

E as conquistas no campo jurídico tende a acompanhar esse crescimento. Emílio Figueiredo disse que já são 4 mil decisões favoráveis para habeas corpus e todos os dias acontece algo novo no âmbito judicial que abre um pouco mais as possibilidades envolvendo o tema cannabis. “Precisamos barrar a entrada de pessoas no cárcere por motivos de fumar maconha e mitigar os estragos causados na saúde mental dessas pessoas que já estiveram lá. Descriminalizar o usuário: essa deve ser nossa missão como sociedade. Todo mundo fuma maconha, não é à toa que existem tantas marcas de seda no Brasil”, completou o advogado.

Em resumo: precisamos da voz brasileira nesse universo global.

E amanhã tem mais Expocannabis!
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