Entrevista Ana Carolina Gusman Lacerda, pesquisadora que desenvolve estudo inédito na Unifeso sobre efeito neuroprotetor da cannabis no cérebro

Título da pesquisa: Efeito Neuroprotetor do Canabidiol na Hipoperfusão Cerebral Crônica Associada à Demência

Centro Universitário Serra dos Órgãos (UNIFESO)

Confira aqui esse papo!

Apepi – O seu estudo foi desenvolvido para avaliar o efeito neuroprotetor do canabidiol. Como surgiu essa ideia e o que já existe na literatura médica sobre a indicação do CBD para esse efeito?      

Ana Carolina – A pesquisa que estou desenvolvendo avalia os efeitos neuroprotetor em modelos de hipoperfusão cerebral crônica associados à demência, ou seja, avalia a eficácia do canabidiol no tratamento da demência, processos demenciais que envolvem várias doenças como Parkinson e Alzheimer.

A ideia surgiu a partir do caso da minha amiga Carolina Freitas, que trabalha na APEPI. Eu acompanhei o processo de tentativas dela para terapias. Nós já temos muitas comprovações científicas para o tratamento de epilepsia e uso de canabidiol, também há muita informação no tratamento de dores crônicas.

No caso de síndromes que englobam demências, existe pouco material literário no que tange o uso do canabidiol. Apesar de serem doenças muito prevalentes, temos baixa eficácia no tratamento que utiliza basicamente antipsicóticos, uma medicação que possui muitos efeitos colaterais com uma eficácia moderada para os sintomas cognitivos. São esses sintomas cognitivos que vamos focar na pesquisa usando canabidiol e como ele ajuda nesses sintomas.

Ao entrar para a faculdade de medicina, surgiu essa oportunidade para tratar esse tema em pesquisa. Temos um laboratório de ciência animal que trabalha com roedores, biotério como era conhecido. As pesquisas passam por um comitê de ética animal que aprova os testes. Meu professor ficou interessado nesse tema, o assunto tem muita relevância para pesquisa em demência já que outras áreas já são bastante abordadas.

Apepi – Como foi a experiência de aprovar um projeto de pesquisa com Cannabis dentro da sua universidade? Você encontrou barreiras? Como foi a avaliação do projeto no comitê de ética?

Ana Carolina  – A faculdade estimula muito a pesquisa e desde o início foram receptivos, mas na ciência da saúde a cannabis ainda causa estranhamento. Os reitores são antigos, o professor que topou o desafio já sabia que haveria o crivo a comissão de ética para seguir ou não com a pesquisa. Na metade de 2021 já tinha um pré-projeto realizado e tudo definido, mas a decisão para aprovar a pesquisa veio com uma apresentação de prestação de contas para essa comissão de como tudo seria feito. Tive que vender o meu peixe naquele momento.

Apepi – Como a APEPI colaborou para que você conseguisse realizar a sua pesquisa?

Ana Carolina – Mostrei estudos de casos reais, como o caso da Carolina Freitas, minha amiga. Mostrei na prática a relevância da Apepi nesse processo, como a associação foi criada e como funciona.

A ideia veio da possibilidade do contato que a Carolina fez com a APEPI. Sem isso seria muito difícil com certeza. A revisão literária é tudo que se tem nesses casos de pesquisa. Mas ter acesso ao óleo nos possibilita resultados muito mais ricos. Sem a Apepi minha pesquisa teria ficado só teoria.

Apepi – Quais foram os resultados encontrados e quais são os próximos passos para assegurar o efeito neuroprotetor do canabidiol?

Ana Carolina – Até o momento temos resultados parciais. Foram utilizados 36 ratos no estudo. No início eram monitorados apenas seis ratos. Pelas evidências que já temos os roedores tiveram melhoras da cognição com o uso de CBD, mas amostra era pequena e os resultados não são muito palpáveis. Há indícios de que esse canabidiol pode ser favorável. Entretanto, nesse momento há embates quanto à dose de canabidiol utilizada devido à falta de referência literária do uso dessa substância em roedores. No caso de demência, vimos que varia muito as doses. Então, temos essa dúvida e estamos atuando na base da tentativa e erro.

O uso de canabidiol em roedores para outras doenças, percebemos que há uma grande variação de doses. Naqueles que não apresentaram um resultado positivo, acredito que foi por causa da dose utilizada ou do tipo de CBD que usamos, da sua concentração, etc.

Os próximos passos é ajustar essa dose e reproduzir o maior número possível para resultados mais fidedignos.

Apepi – Você pretende continuar este projeto? Quais são os desfechos que a sua pesquisa deixa para a comunidade científica?

Ana Carolina – Pretendo simdesmembrar mais o projeto. O vínculo inicial entre a faculdade e a APEPI nessa área de desenvolvimento científico é estimulado. Todos aqui ficam muito felizes com essa parceria e muitos estudantes de medicina querem fazer parte do projeto.

Agora eu pretendo avançar para estudos de imagem nos roedores, realizando tomografias e ressonância. Há muito campo para explorar ainda.

Quero frisar que a importância de conversar sobre esse assunto na saúde e na medicina, ainda é um assunto muito delicado. Estamos carentes de referências científicas. Toda pesquisa nesse campo é válida, ainda que não tenhamos o resultado que a gente espera, acredito que novos estudos podem surgir. E devemos sempre pensar na qualidade de vida do paciente, principalmente aqueles com demências, algo que ainda não tem cura. O uso de canabidiol é um tratamento de apoio para que eles vivam bem.

Ana Carolina Gusman Lacerda tem 23 anos, é estudante de medicina na reta final do curso, mora em Teresópolis/RJ e é aluna da UNIFESO, parceira da Apepi em desenvolvimento de pesquisas científicas para uso de cannabis medicinal.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.